Vai à beira do
rio, Maria?
Tão depressa, tão
faceira,
pelo caminho da
roça,
de estreitas
curvas sinuosas,
como as curvas do
seu tênue
corpo, que vai
andando,
num sensual
rebolado,
fixando na terra
úmida,
a sua pisada
disforme,
movendo pra cima
e pra
baixo, as nádegas
torneadas,
sem se importar
com quem
venha atrás,
admirando
tão fascinante
beleza.
Vai à beira do
rio, Maria?
Tão depressa, tão
sozinha,
por que ninguém
vai com
você, Maria?,
deixou marido
em casa, deixou
filho pequeno
brincando no
quintal,
deixou feijão,
arroz, verduras,
cozinhando nas
panelas,
deixou o ensopado
já prontinho,
exalando
o cheiro por toda
casa;
deixou roupa no
varal,
deixou a cama
desforrada,
deixou a casa
desarrumada,
deixou as coisas
por fazer.
Tão depressa, tão
pensativa,
no que você
pensa, Maria?,
com a trouxa de
roupa
sobre a cabeça,
com o suor
lhe banhando todo
o corpo,
com a saia e a
blusa tão
ensopadas do teu
suor
tão inebriante e
sedutor.
Vai à beira do
rio, Maria?
Tão depressa, tão
prática,
na vida tosca da
roça,
sem pensar em
quase nada,
apenas na paz do
ambiente
tão bucólico, tão
natural,
pensando talvez,
em ir,
pra voltar logo,
ou quem
sabe, demorar
mais um
pouco, pra lavar
a roupa
com mais esmero,
pra lavar
os cabelos tão
lisos, longos
e pretos, e
depois, se não
tiver ninguém no
rio,
tirar a própria
roupa
do corpo e também
lavá-la,
já que trouxe
roupa limpa
pra vestir, após
um delicioso
banho no rio,
nua, nua, nua...
Vai à beira do
rio, Maria?
Tão depressa, tão
sensual,
com molejo no
corpo jovem
e esguio,
pensando talvez,
em passar o tempo
nas
habituais
atividades, até que,
enfim, chegue a
noite,
e você, Maria,
toda dengosa,
toda cheirosa,
toda gostosa,
após o delicioso
jantar,
após botar o
filho pequeno
pra dormir, sair
pro terreiro
da casa, pra
sentir a brisa
fresca da noite,
contemplando
a lua e as
estrelas, de mãos
dadas com o amado
marido,
decidam
recolher-se no tosco
mas aconchegante
lar,
e, entregarem-se
em corpo
e alma, na paz do
ninho
de amor, às
delícias amorosas,
às paixões libidinosas,
de duas almas
simples e afins..
mas é desse
jeito, Maria,
que você é,
deveras, tão feliz!
Escritor Adilson Fontoura
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