RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Dassault Rafale, caça projetado na década de 80 para substituir todos os Mirage 2000 da força aérea francesa |
Quando o presidente francês, François Hollande, desembarcar no Brasil, depois de amanhã, trará um personagem especial: Éric Trappier, presidente da Dassault, fabricante do caça Rafale.
A França tenta vender há anos o caça ao Brasil. O Rafale foi dado como quase certo vencedor da concorrência F-X2 no governo Lula (2003-2010) pelo então presidente Nicolas Sarkozy, em 2009.
As chances de o caça francês ser escolhido o principal avião de combate da Força Aérea Brasileira durante décadas futuras --depois de uma novela que já dura mais de uma delas-- aumentaram por vários motivos. François Hollande tem uma boa relação com a presidente Dilma Rousseff. Ela o visitou poucos meses depois de ele ser eleito.
Trappier deverá responder a todos os detalhes --técnicos, políticos, financeiros-- que Dilma e Hollande quiserem saber sobre o bilionário contrato para aquisição de 36 aviões --mas que podem chegar a 120, se a FAB tiver condições de renovar toda sua frota de caças-bombardeiros e for viável sua produção no Brasil pela Embraer.
Um dos principais rivais do Rafale, o caça americano F/A-18 Super Hornet, sofreu muito politicamente com as revelações de espionagem dos EUA, inclusive no Brasil e na França. Outro ponto a favor do Rafale é a parceria que Brasil e França têm na construção de submarinos. Em missões recentes, como no Afeganistão, na Líbia e no Mali, o Rafale foi muito bem-sucedido em combate.
"Uma das missões envolveu um voo da base aérea de Saint-Dizier, na França, até o Mali, o equivalente a voar de Porto Alegre a Boa Vista", disse ontem Benoît Dussaugey, o novo vice-presidente responsável pelo consórcio Rafale International.
O "principal vendedor" do mais importante avião da Dassault veio ao Brasil para dez dias de conversas. Ele falará com autoridades e empresas nacionais que poderão se envolver na produção de componentes para os Rafale da FAB caso ele seja escolhido pelo governo de Dilma --ou seu sucessor, se ela decidir adiar a compra, como fizeram os dois presidentes anteriores.
Está prestes a ser concluído um acordo de venda e produção de 126 Rafale para a Índia, incluindo no final 100% de nacionalização do avião, com total transferência de tecnologia. Seria um bom exemplo do que poderia acontecer no Brasil, embora o objetivo inicial aqui seja de uma nacionalização de pelo menos 50% (mais que isso não traria custo-benefício para apenas 36 aviões).
Dussaugey esteve ontem na Embraer, uma das cerca de 50 empresas, entidades ou centros de pesquisa com os quais o consórcio já tem acordos de cooperação. Um dos exemplos de transferência de tecnologia que ele cita é a Omnisys, de São Bernardo do Campo (SP), controlada pela multinacional Thales, que seria responsável pelos radares do Rafale.
"O Rafale é inteiramente francês, o que permite uma irrestrita transferência de tecnologia", diz Dussaugey, alfinetando seus concorrentes, o sueco Gripen, que possui componentes fabricados nos EUA, e o F/A-18, ambos dependentes do bom humor do governo americano.
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