por Josias de Souza / Folha Online
O Paulo Octávio que se move nos subterrâneos de Brasília é diferente do Paulo Octávio que, em público, admite a hipótese de renunciar. No exercício do governo do Distrito Federal há seis dias, desde que o titular José Roberto Arruda foi à prisão, Paulo Octávio pegou em lanças.
Tenta pôr em pé uma estratégia de sobrevivência. Luta contra um lote de vocábulos de desinência comum e som aumentativo: “ao”. No STF, tramita o pedido de intervenção. Na Câmara Legislativa, correm os processos de cassação…
…No DEM, avizinha-se o pedido de expulsão. Na Polícia Federal e no Ministério Público, evolui a investigação. Como rima, o “ão” é paupérrimo. Até os repentistas populares fogem dele, para não dar prova de falta de imaginação.
Aplicada à cena de Brasília, além de arrastar os destinos políticos da cidade para o feio eco em ão, a terminação ganha contornos de problemão. De difícil solução. Abaixo, um resumo da estratégia concebida por Paulo Octávio para tentar fugir à maldição:
1. Intervenção: A assessoria do governador interino informa que ele terá encontro com Lula nesta quarta (17). Paulo Octávio vai ao presidente para pedir apoio contra o pedido de intervenção federal no DF. Para não parecer que advoga em causa própria, fará a defesa do respeito à linha sucessória legal.
Uma maneira de acentuar que, ainda que deixe o cargo, o governo deve ser entregue ao presidente da Câmara ou do Tribunal de Justiça, não a um interventor. Curiosamente, o Planalto esquivou-se de acomodar a encrenca de Brasília na agenda oficial de Lula. Anota cinco compromissos. Em nenhum há o nome de Paulo Octávio.
Nesta Quarta-feira de Cinzas, o expediente do presidente começa com despachos internos, às 15h15. E termina com uma reunião sobre o PAC 2, às 17h. Um auxiliar de Lula informou ao repórter que Paulo Octácio pode ser recebido em audiência “extra-agenda”. Mas o presidente tem pouco a oferecer. Lula dirá que a intervenção no DF não depende dele, mas do STF, onde corre o pedido feito pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel.
2. Cassação: Contra os pedidos de impeachment que correm contra ele na Câmara Legislativa do DF, Paulo Octávio tenta reunir os cacos da base governista. Reservadamente, esgrime o argumento de que, afastando-o do cargo, o Legislativo jogaria água no moinho da intervenção. Algo que não serve aos interesses da bancada do panetone.
O blog ouviu dois náufragos do governismo –um deputado do PMDB; outro do DEM. Disseram: o impeachment de Arruda é, hoje, mais provável que o de Paulo Octávio. 3. Expulsão: Nesta terça (16), Paulo Octávio deslocou-se de Brasília para Goiânia. Foi ao encontro do senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Demóstenes lidera, junto com o deputado Ronaldo Caiado (GO), o pedaço do DEM que deseja expulsar Paulo Octávio do partido. Na conversa, o governador interino disse a Demóstenes que o apoio da legenda é essencial para que consiga manter um mínimo de “governabilidade” no DF.
O senador não se deu por achado. Reiterou a Paulo Octávio que vai mesmo protocolar o pedido de expulsão na próxima semana. Ante a intransigência de Demóstenes, Paulo Octávio pediu socorro à direção do DEM. Tenta evitar que o expurgo seja aprovado. Pediu tempo.
Prometeu mostrar serviço. Acenou com uma operação “limpeza”. Planeja trocar o secretariado que herdou de Arruda. Levaria para o GDF nomes de peso. Citou um exemplo: Carlos Veloso, ex-ministro do STF. O repórter apurou que Veloso, de fato, foi convidado. O diabo é que o nomão disse “não” a Paulo Octávio.
4. Investigação: Alvo do mesmo inquérito que carbonizou Arruda, Paulo Octávio se esforço para tomar distância do escândalo. Alega que, diferentemente do titular, não apareceu em vídeo apalpando maços de dinheiro. Diz que nem provou do panetone nem participou de coletas de propinas.
A PF e o Ministério Público estão convencidos do contrário. Marcelo Carvalho, executivo do grupo empresarial de Paulo Octávio, aparece nos vídeos. De resto, o governador em exercício é protagonista de um segundo inquérito. Resultado de uma operação batizada pela PF de Tucunaré.
Nasceu de grampos telefônicos, que desaguaram na suspeita de envio de dinheiro de má origem para contas no exterior. A PF atribui as contas a Paulo Octávio, que nega. Promotor licenciado, o senador Demostenes Torres afirma, em privado, que Paulo Octávio pode ter o mesmo destino de Arruda: a prisão.
Daí o pedido de expulsão, que chega, segundo ele, com atraso, após inmcompreensível hesitação. Será aprovado? Talvez não. Mas Demóstenes não abre mão de argumentar na Executiva: ou o DEM se livra de Paulo Octávio ou gruda na sua logomarca, em definitivo, a pecha do mensalão, igualando-se ao PT em perversão.
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