“O que é que Geddel quer que eu faça?”


Geddel


Com esta pergunta o governador da Bahia, descontroladamente, interrompeu jornalistas que o questionavam a respeito dos meus comentários sobre sua visão em relação aos usuários de crack, a quem ele atribui toda a responsabilidade pela violência na Bahia e para quem só acredita existirem duas saídas: o caixão ou a cadeia. Na verdade, não estou aqui pra ensinar o governador em fim de mandato a governar, mas já que fui solicitado, não posso me negar a colaborar. Em relação ao problema do crack e de outras drogas, é preciso antes de tudo, não vê-lo de forma isolada. As drogas e a violência que gravita em torno delas fazem parte de um contexto sócio-econômico desfavorável a determinados grupos pouco beneficiados pelo desenvolvimento.

É preciso entender que o usuário de drogas é uma pessoa que precisa de ajuda, de cuidados médicos e de reorientação psicológica e não de ser “assustada” como também afirmou o governador.
Enquanto isso, o traficante é um “comerciante”  que na maioria das vezes não usa drogas. A violência surge pelo domínio dos pontos de comercialização que movimentam muito dinheiro. São coisas muito diferentes e que devem ser resolvidas também de formas diferentes.
O que eu queria é que Wagner tivesse investido uma parcela da vultuosa verba que gastou em propaganda autopromocional, em informações mostrando aos jovens o risco das drogas, especialmente o crack.
Queria que Wagner tivesse feito campanhas alertando os pais sobre a importância de manter vigilância sob os filhos, mantendo-os afastados do crack. Queria que Wagner oferecesse aos pais dos dependentes e aos jovens, alternativas que não fossem as que ele elegeu: cadeia ou caixão.
Queria que tivesse construído áreas para a prática de esportes nas periferias das nossas cidades, piscinas, quadras, áreas de lazer, estimulando os jovens, sobretudo os mais pobres, a uma conduta sadia e distante das drogas. Queria que tivesse tido a capacidade de criar e dirigir programas de empregos para os jovens.
O que eu queria é que Wagner sinalizasse para os pais e também para os dependentes químicos, que a sua Secretaria de Saúde seria capaz de gerenciar melhor os leitos da rede hospitalar, para garantir vagas e tratamento; que fosse capaz de difundir pelo Estado os CAPS AB III, para cuidar da recuperação dos dependentes de álcool e outras drogas.
Eu queria que Wagner tivesse tornado a sua polícia eficiente e eficaz para fazer, aí sim, os traficantes terem medo e não os jovens. Esses precisam de educação de qualidade, emprego, amparo e, quando dependentes, de tratamento. O que eu queria mesmo, agora, é que Wagner tivesse humildade para reconhecer que errou gravemente ao assumir o conceito de que para o dependente de drogas só existem duas portas: a cadeia ou o cemitério.

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