FONTE DE ANTIGAS EMOÇÕES


 Por Wilson Midlej
Fonte das emoções da Bahia esportiva




Hoje, 29 de agosto de 2010, a Fonte Nova foi detonada, literalmente. O estádio Octávio Mangabeira foi inaugurado em 28 de janeiro de 1951 com a partida entre o Botafogo de Salvador e oGuarany, que terminou com a vitória de 1 a 0 para o Botafogo. O primeiro gol no estádio foi marcado por Antônio, que estava jogando pelo Botafogo. Esse jogo fez parte do Torneio Octávio Mangabeira, organizado para inaugurar e promover o novo estádio, que, mais tarde, foi vencido pelo Bahia.

Frequentar a Fonte Nova, invariavelmente, às quartas e domingos, era um hábito arraigado da minha geração. Morava em Nazaré, mais precisamente na Rua Prado Valladares. Os garotos das cercanias reuniam-se no Jardim de Nazaré, num monumento situado em frente à casa de Edizio Muniz. Dali, seguíamos pra a Fonte Nova nas noites de quarta feira e nas tardes de domingo. Berto, Lió, Elmo, Antonio Lima, Miranda, Alex Muniz, este torcedor do Botafogo, Edson Rorrô, Augêncio,  descíamos pela escadaria existente ali, na garganta da Escola de Eletromecânica, e Faculdade de Filosofia da Ufba, saindo pertinho da Fonte das Pedras, ao lado do portão principal de entrada.  Nos jogos do Bahia alguns de nós não pagávamos ingresso pela condição de atletas juvenis. A carteirinha, assinada por Osório Vilas Boas ou Contran Lessa, nos dava direito de ingresso pela portaria da Imprensa, Autoridades e Permanentes da Cadeira Cativa. Eu entrava sempre por ali, seja como atleta juvenil do Bahia ou quando o primo Gouveia Filho, narrador esportivo da Radio Sociedade chegava e, pondo a mão no meu ombro, viabilizava o acesso sob o olhar severo do
Foto recente de Seu Souza. Ele barrou Pelé
Foto recente de Seu Souza. Ele barrou Pelé
porteiro, seu Souza, um negro alto, silencioso e elegante, que vivia de olho nos penetras e barrou o próprio Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, que ia entrando sem a senha ou convite.  Quando nada funcionava, íamos com Lió, aos 16 anos, já titular do São Cristovão, tentar entrar pelo acesso dos jogadores,  embaixo,  no portão da piscina.
O fato é que a  Fonte Nova era ambiente nosso. Frequentávamos a academia de box que funcionava sob as arquibancadas da geral, onde Lió e Berereco treinavam para enfrentar  Augêncio e a alguns de nós, treinados por João Felix, na Vasco da Gama. Nesse universo, conhecíamos até os vendedores ambulantes de pastéis, acompanhados da Guaraná Caçula da Antárctica. A Fratelli Vita não tinha acesso.
Ali vivenciamos as memoráveis atuações do Bahia de então. Flamengo? Vasco? Corinthians? Nem pensar… Nilsinho, Mario, Vicente e Henricão, Biriba, eram os ídolos de um time invencível. De um futebol primoroso. O jequieense Zé Oto fazia sucesso no Ipiranga, mas logo veio para o Bahia. Foi assim, foi neste cenário, com o negão Jones, dançando na balaustrada à frente da torcida, que surgiu o jargão BAÊÊÊÊAA!
França Teixeira e Álvaro Martins disputavam a audiência com a PRA-4, Sociedade da Bahia. Os torcedores, com seus radinhos no ouvido, sintonizavam com seus narradores preferidos e, de voz inconfundível: Ferro na Boneca… Vá pra M…esbla, meu povo jóia…
Pois é, hoje a Fonte Nova foi implodida. Com ela, o cenário de vibrações e alegrias de toda uma geração. Que venha a nova Arena. Só nos resta resistir a sentimentos de melancolia e culto ao passado para manifestar nossa esperança de novos momentos de alegria e emoções para o futebol da Bahia.

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