FHC diz que coração do PT bate por Chávez e que governo tem indefinição sobre valores

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que o Brasil parece ter medo do venezuelano Hugo Chávez, "já que não exige que ele cumpra seus compromissos, como os que assinou" ao se integrar ao Mercosul.

De acordo com o ex-mandatário, que governou entre 1995 e 2002, o governo liderado por Luiz Inácio Lula da Silva --que deixará o cargo no final deste ano-- "tem uma indefinição a respeito dos valores que devem ser defendidos".

A Venezuela aguarda a aprovação do Parlamento do Paraguai ao protocolo de adesão que permite sua entrada como membro pleno do Mercosul. Brasil, Uruguai e Argentina já sancionaram o texto.
"O coração do Partido dos Trabalhadores, ao qual pertence Lula, bate por Chávez", afirmou FHC em entrevista ao jornal chileno "La Tercera".
De acordo com a publicação, o ex-presidente afirmou que o venezuelano conseguiu fundir sua imagem com a esquerda, ainda que nem ele nem seu afã por aumentar o tamanho do Estado representam "o que a esquerda é".
"Esta imagem que projeta Chávez impediu que fossem tomadas muitas ações contra ele. Os presidentes latino-americanos não souberam lidar com o venezuelano", acrescentou FHC.
Para o ex-chefe de Governo, o Brasil "perdeu oportunidades de mediar conflitos como o da Argentina e Uruguai pela fábrica de pasta de celulose ou o da Colômbia e Venezuela".
A disputa entre os governos de José Mujica e Cristina Kirchner dizia respeito a uma indústria construída no lado uruguaio do Rio Uruguai, acusada pelos argentinos de poluir a região. Com a sentença da Corte Internacional de Justiça sobre o caso, em abril, a qual recomendou o controle compartilhado da área, o conflito foi resolvido.
Já Caracas e Bogotá romperam relações em 22 de julho, depois que o governo do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010) acusou Chávez de tolerar a presença de guerrilheiros em seu território perante a Organização dos Estados Americanos (OEA). Os laços foram retomados na terça-feira, em uma reunião entre o novo mandatário colombiano, Juan Manuel Santos, e o venezuelano.
'Se bem que no econômico o Brasil cumpriu um papel relevante em instâncias como o G20 [grupo dos países mais industrializados do mundo e dos principais emergentes], sendo uma voz importante nos esforços para diminuir as desigualdades, isso não se fez com a mesma força na América Latina', opinou FHC.

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