A decisão da Justiça Federal de mandar demolir todas as 353 barracas de praia de Salvador (outras 127 foram derrubadas no primeiro semestre) deixou 3.000 pessoas desempregadas, segundo o presidente da Associação de Barraqueiros, Alan Rabellato, e acabou com o sonho de alguns empresários que chegaram a investir até R$ 500 mil em seus estabelecimentos nos últimos anos. “Tenho uma filha de oito anos para criar e não sei o que vai ser da minha vida”, disse a cozinheira Ana Rita de Mendonça, 35, que há quase duas décadas trabalhava em uma barraca construída na praia de Patamares e que foi derrubada na manhã desta terça-feira (24).
No primeiro dia da operação, nesta segunda-feira (23), 102 barracas foram demolidas, de acordo com informações da prefeitura. A determinação de demolição dos empreendimentos partiu do juiz Carlos D’Ávila, da 13ª Vara da Justiça Federal. De acordo com ele, as barracas foram construídas ilegalmente porque ocupam uma faixa (areia) que pertence à União. Em sua sentença, o juiz escreveu que a orla de Salvador está “favelizada, imunda, entupida de armações em alvenaria”, e a construção das barracas “reduziu as praias da cidade, outrora belas, no mais horrendo e bizarro trecho do litoral das capitais brasileiras”, tudo isso, “sob o beneplácito de desastrosas permissões de uso, outorgadas pelo Executivo local”.
Chorando muito, a comerciante Aline Brito de Souza disse que investiu R$ 400 mil em seu estabelecimento. “O que estão fazendo com a gente é um crime. Em poucos segundos, a minha vida ruiu também.” Fornecedora de sombreiros para os comerciantes, Adriana Furtado teve a mesma reação. “Tenho 16 funcionários, todos com carteira assinada. A partir de agora, não tenho alternativa, a não ser efetuar a demissão de todos eles.”
O advogado da Associação de Barraqueiros, João Maia, responsabilizou a Prefeitura de Salvador pelas demolições. “O prefeito pediu a demolição e, agora, quer se fazer de vítima.” Em nota, o prefeito João Henrique Carneiro (PMDB) disse que sempre procurou uma solução negociada para o impasse. Nesta terça-feira (24), segundo dia da operação, os trabalhos de demolição começaram por volta das 6h. Ao contrário do primeiro dia, não houve resistência por parte dos comerciantes.
Antes de iniciar os trabalhos com os tratores, os funcionários da prefeitura esperavam os técnicos desligarem a energia dos estabelecimentos. Em menos de 40 minutos, todas as 26 barracas localizadas na praia de Patamares foram demolidas. Em seguida, os funcionários foram executar os trabalhos em outra praia, acompanhados por agentes das polícias Federal e Militar. Durante esta madrugada, revoltados com a decisão da Justiça Federal, cinco proprietários colocaram fogo em seus estabelecimentos, segundo a prefeitura.
Estabelecimentos luxuosos
Muitas das barracas derrubadas por decisão da Justiça Federal ofereciam luxo e conforto para os seus clientes. Os estabelecimentos localizados na praia do Flamengo, por exemplo, colocavam à disposição dos baianos e turistas internet sem fio, sessões de massoterapia, música eletrônica, seguranças particulares, DJs, espaços gramados para as crianças se divertirem e locais para a realização de festas e casamentos.
O empresário Sílvio Ferreira, dono da barraca Cancún Beach, disse que investiu cerca de R$ 600 mil no estabelecimento. “Durante o verão, aos domingos, chegava a lucrar R$ 12 mil. Isto é o investimento de uma vida inteira”, acrescentou o empresário, que tinha 12 funcionários contratados. “Nos dias de grande movimento eu também dava emprego a alguns diaristas.”
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