Estadão
O candidato tucano à Presidência, José Serra, afirmou ser “inegável” que
a Venezuela abrigue, em seu território, guerrilheiros das Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Todo mundo sabe, até as árvores da
floresta amazônica – até não, coitadas, elas são as principais testemunhas
- de que as Farc se abrigam na Venezuela”, afirmou.
O candidato tucano não poupou o presidente venezuelano, Hugo
Chávez. Para ele, a postura do líder vizinho traz instabilidade para a região.
“A gente sabe que o Chávez é partidário do espetáculo. A Venezuela está
com economia complicadíssima, inflação alta… Então ele vai criando fatos.
Fatos que ameaçam a estabilidade da América do Sul, da América Latina e
também do Brasil. Porque ter países se hostilizando nas nossas fronteiras
também não é uma boa”, afirmou.
Serra disse que, em um eventual governo seu, proporia uma política de
pacificação para as rusgas entre Colômbia e Venezuela, mas ressalvou que não se
deve “ter viés para um lado, porque aí você perde a capacidade de negociação”.
“É inegável que o Brasil sempre teve mais simpatia pelo Chávez. É
inegável que o Chávez abriga essas Farc”, acrescentou.
As declarações do candidato tucano acontecem em meio a elevação das
tensões entre Venezuela e Colômbia. Chávez rompeu relações com o país
vizinho na semana passada, depois que o governo do presidente Álvaro Uribe
apresentou fotos, vídeos e mapas à Organização dos Estados Americanos (OEA) do
que seriam acampamentos de guerrilheiros colombianos em território venezuelano.
Segundo o embaixador da Colômbia na OEA, Luis Hoyos, existem 87 acampamentos e
1.500 soldados das Farc na Venezuela.
Serra falou hoje para empresários do Grupo de Líderes Empresariais
(Lide), em um hotel da zona Sul de São Paulo. Em seu discurso, ele criticou a
proximidade entre as diplomacias de Brasília e Caracas. Para o tucano, se o
Itamaraty tivesse o mesmo empenho que demonstrou na questão nuclear do Irã para
resolver os problemas da América Latina, as disputas entre os dois países
vizinhos já estariam sanadas.
“Eu diria que (o contencioso entre Venezuela Colômbia) é muito mais prioritário
do que o programa nuclear do Ahmadinejad, que consumiu uma massa de energia
incrível. Para quê? Para nada”, criticou.
As críticas do tucano se deram em meio a ataques à política de comércio
exterior do País. Na avaliação do tucano, a estratégia de aproximação com
países “não-alinhados” trouxe apenas dividendos políticos para o Brasil. “O
Brasil não tem política de comércio exterior. De 2002 para cá, houve cem
acordos de livre comércio no mundo, e o Brasil assinou um, com Israel, que é um
país pequeno, com alguns produtores”, criticou. “Há uma política exterior de
muita projeção política para o Brasil. Para o bem e para o mal, mas não no que
se refere à economia”, acrescentou.
Política contraditória
Além dos ataques à política externa, Serra usou seu discurso aos
empresários para criticar a política econômica do governo Lula. Para ele, as
atuações dos diferentes ministérios que compõem a área são contraditórias.
“Você não pode ter um governo funcionando bem na economia com o pessoal durão
da política monetária, o outro que é o papai noel do gasto, o outro que é o
leão de arrecadar, cada um jogando por si. Independentemente da qualidade das
pessoas”, exemplificou, sem citar nomes.
Para o tucano, a solução se daria através da integração da política econômica,
por meio da escolha dos ministros que compõem a área. “É um problema de
competência, de ter uma equipe entrosada, de você ter objetivos comuns”,
afirmou.
Serra também criticou a atuação do governo federal durante a crise
econômica mundial. “O enfrentamento do ciclo seguiu um manual oposto ao da
economia keynesiana”, afirmou, numa referência às políticas
anticíclicas propostas pelo economista britânico John Maynard Keynes – que
propunha aumentar os gastos em investimentos a curto prazo e diminuir os juros.
“Foi feito o contrário. (O Brasil) foi o único país do mundo que não abaixou os
juros por quatro meses”, exemplificou o tucano, que também fez duras críticas a
aumento dos gastos com consumo do governo e a baixa taxa de investimentos.
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