
No começo do ano, li um relatório do Earth Policy Institute (EPI) sobre o declínio da era do carro nos EUA. Segundo Lester Brown, (fundador da Worldwatch Institute e autor do Livro Plano B), o caso de amor dos Estados Unidos com o carro parece ter chegado ao fim. Pela primeira vez desde a II Guerra o número de vendas de carros novos em 2009 nos EUA, foram inferiores ao número de carros sucateados, ou seja, 14 milhões de carros viraram sucata, 4 milhões a mais do que o número de carros novos vendidos no mesmo período.
Uma corrente de analistas econômicos associaram esse fenômeno a recessão americana, outra corrente ligada ao desenvolvimento sustentável concluíram que o fato foi causado por diversas fontes convergentes. Ocorre que mercado americano de automóveis chegou ao seu limite, provocados por uma série fatores tais como aumento das taxas de congestionamentos, políticas equivocadas de urbanismo e mobilidade, incerteza econômica, insegurança em relação aos combustíveis fósseis, preço da gasolina, mudanças climáticas, taxa de juros e um fator importantíssimo, o declínio da venda de carros para a população mais jovem. Hoje nos EUA existem 5 carros para cada 4 motoristas, no Brasil a taxa de motorização é variável conforme o Estado, em São Paulo, segundo dados divulgado no site da secretaria de Transportes do Estado de São Paulo a Taxa de motorização é de 401 veículos para cada 1.000 habitantes, mas se a conta for realizada por motoristas ( quantidade de carros por motoristas) é bem provável que a taxa de motorização paulista seja muito próxima dos Estados Unidos. Em relação ao Brasil, se analisarmos os dados friamente, o mercado potencial é altíssimo de vendas, mas também serve como alerta. Quanto tempo mais São Paulo continuará comprando carros? Qual o limite de vendas? Qual o Ponto de saturação? O Japão, um país mais urbanizado e mais denso do que os EUA, pode oferecer algumas pistas sobre o que deverá ocorrer com o mercado de automóveis no mundo. Lá o mercado de vendas de automóveis ficou saturado em 1990 e desde então suas vendas anuais vem caindo cerca de 21% ao ano. O custo trânsito nos EUA, incluindo o combustível desperdiçado em congestionamentos, subiram de US$ 17 bilhões em 1982 para US$ 87 bilhões em 2007. Segundo artigo do Vice-presidente da Fundação Getúlio Vargas, Sr. Marcos Cintra Cavalcante o custo trânsito apenas em São Paulo era de R$ 27 bilhões em 2007. Não é preciso dizer que São Paulo vem seguindo corretamente a cartilha da saturação do mercado. O que vem ocorrendo nos EUA? Prefeitos estão desesperados para diminuírem o custo trânsito, poluição afeta a saúde pública que consome grande parte da arrecadação. Além de ser um problema para as mudanças climáticas. O que leva a adoção de medidas severas de restrições que muitas vezes sem resultados. Tardiamente muitas cidades começaram a desenvolver projetos de Mobilidade Sustentável, incentivando o uso de transportes públicos, melhorando a segurança e elevando os padrões de qualidade, a fim de salvar suas economias e diminuindo a quantidade de estacionamentos entre outras diversas medidas. Mas a maior tendência que afeta o futuro do automóvel está no comportamento dos jovens. Antigamente, comprar o primeiro automóvel era um rito de passagem da adolescência para a Maioridade e o automóvel era o símbolo desta era, representava a liberdade e era considerado um passatempo popular. Os jovens americanos que vivem numa sociedade mais urbana aprenderam a viver sem carros. Eles se socializam mais em redes, utilizam mais telefone celular, smart phones, iphones, Ipad, Note-books do que com o carro. Muitos deles sequer se preocupam em obterem uma carteira de motorista. Para se ter uma idéia o número de licenças de adolescentes para dirigir em 1978 era de 12 milhões anuais, hoje este número esta abaixo dos 10 milhões, e se esta tendência se mantiver, a compra de carros novos continuará em declínio nos EUA. Eu venho conversando com diversas montadoras e até alertando que avaliação da que a taxa de motorização nacional, que ainda é inferior aos dos países desenvolvidos não leva em consideração nossa política de mobilidade. É preciso levar em consideração que o Brasil é um país em desenvolvimento, nossa infraestrutura viária e serviços de transportes públicos são deficitários, em compensação estamos inaugurando pontes, trechos de estradas o que é uma política altamente geradora de trânsito, o que prova que nossos governantes não estão preparados para uma mobilidade sustentável, quando o momento chegar, as restrições ao uso do carro serão violentas, não porque finalmente as autoridades começaram a trabalhar com a demanda de mobilidade, mas porque foram forçadas a tomarem uma atitude devido ao estrangulamento das nossas vias. Trabalhar o mercado não é apenas o trabalho das mondadoras, todas as empresas deveriam estar trabalhando neste sentido para otimizar deslocamentos desnecessários, diminuir o uso da carro a trabalho, isso garantiria o mercado, a economia e a saúde pública. Medidas preventivas poderiam estar sendo tomadas agora pelas autoridades, desenvolvendo projetos de parceria publico e privado e incentivando o uso de meios alternativos em locais de grande fluxo de carros e congestionamentos, o tempo de trabalhar apenas a Fluidez do automóvel ficou para traz, temos que trabalhar com a demanda de mobilidade da cidade com projetos de governo para mais de 10 anos. Cidades Européias fazem isso, algumas cidades americanas também, ( artigos que eu já escrevi), o que falta para começarmos a fazer?
O Carro deveria ser pensado como parte da solução das cidades e não do problema.
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