Texto Wilson Midlej
Fazenda de Cacau na Bahia
O jornal A Tarde publicou na edição desta segunda (12), que a fazenda Santa Luzia, com 462 hectares, no distrito de Anuri, município de Arataca, no Sul do estado, que chegou a produzir 23 mil arrobas de cacau por ano, foi invadida pela 14ª vez, por 32 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Doente e empobrecida, a proprietária, Dona Silvia Vieira e Almeida, de 91 anos, desistiu de lutar. No passado a Ceplac lhe concedeu o título de Cacauicultor do Ano, pela excelência de suas roças e produtividade conseguida. Hoje ela sucumbiu. Foi embora para São Paulo com uma filha adotiva.
Momento sublime, após a colheita a certeza do dinheiro vivo
A região cacaueira vivenciou, no apogeu das exportações dofruto de ouro, tempo de muita abundância e soberania. O Brasil todo se curvava diante de um capiau, produtor de cacau,mangangão que esvoaçava entre os hotéis mais luxuosos do país e do exterior. Alguém que possuísse uma fazenda de cacau, pequena que fosse, mas que tivesse uma produção anual de 4, 5 mil arrobas, era considerado rico. Os mais letrados com direito a mandar os filhos para estudar na Europa e outras mordomias. Admite-se que era também um tempo de arrogância, de monocultura e soberba. Ainda assim, o fazendeiro de cacau era o gestor de uma fonte de produção que tinha valor significativo na composição do PIB brasileiro.
Cacau o ouro da Bahia
Esse tipo de homem, no passado, enfrentou o empaludismo, desbravou matas plantando cacau na cabruca, e como diz o mestre Euclides Neto, “puxou cobra pros pés”, reunia a família em torno da buralha, comia caça muqueada, até que os birros virassem cabaça. Aí, sentado num banquinho de palmo de altura, empunhava o toco do facão de oito polegadas e quebrava o cacau, embandeirado por dias e dias de colheita. Pois bem, as gerações se sucederam, os capiaus viraram cacauicultores, verdadeiros príncipes das matas, chegando ao auge, pelos preços alcançados pelo produto, entre os anos de 1960 a 1980.
Até que a natureza, cismada por vê-los sentirem-se reis, como disse James Amado, quem sabe por “pisotear tamanha riqueza, quando a chuva insistente, por dias inteiros, não deixava que o sol saísse para secar as amêndoas em gosma espessa [...]” na busca do aperfeiçoamento do cacau gude, resolvesse impor uma praga chamada “vassoura-de-bruxa” para acabar com a majestade.
Hoje, as fazendas mais parecem matas assombradas, boqueirões de miséria e penúria. Os remanescentes, como dona Silvia, assistem os integrantes do Movimento Sem Terra invadirem a propriedade, amparados pela força institucional do poder central, impunemente se alojarem na barcaça, fazer rancho na estufa e debocharem de toda uma história de luta e sacrifício para a edificação do patrimônio, desdenhando dos proprietários e se rindo do sofrimento de quem assiste a decadência do palco da sua existência. É lamentável…
Pisoteio do cacau
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