Política e politicagem


Coluna PONTODEVISTA

A entrevista com o ex-governador Aécio Neves, de Minas Gerais, nas Páginas Amarelas de Veja, desta semana, merece ser lida como a melhor lição-síntese do que seja a responsabilidade de governar. Aí, com muita clareza e simplicidade, Aécio revela maturidade plena de sua condição de jovem estadista, com lugar assegurado no Brasil do presente e do futuro.

Começa ele atribuindo a estratosférica aprovação de 92% do povo mineiro ao seu governo - virtual unanimidade - à adoção da regra elementar de governar pensando no bem público, em função do qual são fixadas razoáveis metas a alcançar, em cada um dos diferentes segmentos em que se divide o ônus-munus da boa administração: professores conscientes de sua responsabilidade de bem ensinar; alunos compenetrados do dever de aprender; aparelho policial engajado na tarefa de reduzir os índices de criminalidade; postos de saúde cumprindo o seu esperado papel de bem atender a população; diferentes órgãos melhorando a infra-estrutura no âmbito de suas atribuições, como estradas, saneamento básico, etc.. E todas as metas são claramente quantificadas, a partir do que existia no momento de sua fixação. O rendimento escolar, por exemplo, deveria ser aumentado em x, y e z, ao longo dos anos 1, 2 e 3. O mesmo com a segurança, com a saúde e com a infraestrutura. Como na preparação dos atletas que concorrem a medalhas: a busca incessante de contínua superação de velhas marcas.

Aqui mesmo neste espaço, tivemos a ocasião de dizer, mais de uma vez, que estávamos mais familiarizados com o programa de governo mineiro do que com o baiano, cujas metas administrativas, de tão desconhecidas do grande público, devem se constituir em segredo de estado, acessíveis, apenas, a uns poucos iluminados.

E é a percepção coletiva dessa inabalável disposição do jovem político mineiro de servir ao seu povo com grandeza, sem politicagem e sem mesquinharia, que está na base da recorde aprovação do seu governo.

E esse é, sem dúvida, o meio mais rápido e eficaz para vencermos o atual desalento que se apodera da alma do cidadão brasileiro, abatido e frustrado com o uso abusivo da máquina pública como instrumento de satisfação do insaciável apetite de políticos menores e corruptos que se veem mal-acostumando a tirar vantagens ilegítimas das funções públicas que exercem. Na política, como no mundo físico, não há vazios. Se os espaços não forem ocupados pelos bons e pelos melhores, os maus e os piores deles se apoderarão, para nossa desgraça.

A substituição de critérios meritocráticos pelo odioso aparelhamento da máquina pública, a partir do mero engajamento partidário ou ideológico, constitui condenável desvio de função que desserve o interesse popular no seu permanente, legítimo e saudável propósito de perseguir a prosperidade e a felicidade.

Independentemente das críticas que se possam fazer ao governo Lula, um reconhecimento público a ele se impõe: sua lucidez e coragem de peitar o inconsequente xiitismo de muitos dos seus partidários, cujo ideário equivocado, se cumprido, levaria o País à bancarrota, e preservar a continuidade do governo Fernando Henrique Cardoso. Essa continuidade observada nos quatro mandatos dos dois últimos presidentes passou ao mundo a convincente mensagem de que superamos o gosto por aventuras insensatas.

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