O governo Lula é o mais corrupto de nossa história'
Folha online
O ex-petista Ivo Patarra, 47, compilou, organizou e editou todo o
material produzido sobre o PT durante os 13 meses do escândalo do
mensalão, o maior esquema de corrupção governamental de que se tem
notícia no Brasil.
Com o resultado desse trabalho de pesquisa, escreveu "O Chefe",
livro que traz os inquéritos, relatórios, sindicâncias, investigações e
reportagens da época. O título é uma produção independente.
Os documentos contidos no volume sintetizam as investigações realizadas
pelo Ministério Público, pela Polícia Federal, pelas Comissões
Parlamentares de Inquérito e outras fontes, como as apurações da
imprensa brasileira.
Nascido em São Paulo, Patarra é jornalista e escritor. Trabalhou nos jornais Folha de S.Paulo, "Folha da Tarde", "Diário Popular" e "Jornal da Tarde". Leia um trecho.
Sinopse
"O Chefe", livro do jornalista Ivo Patarra, é um flagrante da corrupção
política na era Lula. As 457 páginas retratam uma triste realidade, que
marcará toda uma geração. É resultado de cinco anos de pesquisa.
A obra traz os inquéritos, relatórios, sindicâncias, investigações e
reportagens que escandalizaram o Brasil. Os documentos reproduzidos
resumem o trabalho desenvolvido pelo Ministério Público, Polícia
Federal, Comissões Parlamentares de Inquérito, Congresso Nacional,
Tribunal de Contas da União, Controladoria-Geral da União, Tribunal
Superior Eleitoral e principalmente as apurações conduzidas por setores
da imprensa, que contribuíram decisivamente para revelar detalhes do
escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção governamental de
que se tem notícias no Brasil, em todos os tempos.
Capítulo 1
'O governo Lula é o mais corrupto de nossa história'
Qual a justificativa para o presidente da República nomear como
ministro e integrante de seu primeiro escalão de auxiliares o homem que
publicara, num dos jornais mais importantes do País, que ele, o
presidente, era o chefe do governo "mais corrupto de nossa história"?
Pois Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, nomeou o filósofo Roberto
Mangabeira Unger no primeiro semestre de seu segundo mandato, em 2007,
ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, especialmente
constituída para abrigá-lo. E não adiantou nem o PMDB (Partido do
Movimento Democrático Brasileiro) inviabilizá-la tempos depois, durante
uma rebelião para obter mais cargos no governo e proteção para o
senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o então presidente do Senado,
acusado de corrupção. Apesar de o PMDB derrotar a Medida Provisória que
criara o posto para Roberto Mangabeira Unger, Lula deu um jeito na
situação, nomeando-o novamente, desta vez como ministro extraordinário
de Assuntos Estratégicos. A posição do detrator estava garantida.
"Pôr fim ao governo Lula" é o título do artigo de Roberto Mangabeira
Unger publicado na Folha de S.Paulo em 15 de novembro de 2005, no
sugestivo dia da Proclamação da República. O ano de 2005 havia sido
marcado pela eclosão do escândalo do mensalão. Este é o parágrafo de
abertura do artigo:
"Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história
nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de
congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências
reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de
dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus
desmandos."
O que poderia ter levado o presidente da República a nomear como
ministro o autor dessas acusações? E Roberto Mangabeira Unger não
estava brincado, a julgar pela defesa que fez do impeachment de Lula.
Ao denunciar "a gravidade dos crimes de responsabilidade" supostamente
cometidos pelo presidente, o então futuro ministro afirmou em seu
artigo que Lula "comandou, com um olho fechado e outro aberto, um
aparato político que trocou dinheiro por poder e poder por dinheiro e
que depois tentou comprar, com a liberação de recursos orçamentários,
apoio para interromper a investigação de seus abusos".
Alguém poderia argumentar que a nomeação de Roberto Mangabeira Unger
seria um mal necessário. Coisa da política. E tentar explicá-la pela
importância do filósofo, um professor da prestigiada Universidade de
Harvard, das mais importantes dos Estados Unidos, por quase 40 anos. O
Brasil, portanto, não poderia prescindir da experiência e do prestígio
de Roberto Mangabeira Unger, que teria muito a contribuir com o País.
Será mesmo? A cerimônia de posse do filósofo não demonstrou isso.
Poucos ministros, cadeiras vazias, menos de uma hora de solenidade. E
mesmo antes da criticada viagem de Roberto Mangabeira Unger à Amazônia,
em 2008, na qual defendeu o desvio de águas da região para abastecer o
Nordeste, sem considerar que centenas de milhares de amazonenses ainda
não dispunham de água encanada, o ministro já era considerado, em
âmbito do governo, "café-com-leite". Ou seja, não lhe era atribuída
importância, nem de seu trabalho haveria algo para se aproveitar.
Outro trecho do artigo de Roberto Mangabeira Unger: "Afirmo ser
obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do
presidente. As provas acumuladas de seu envolvimento em crimes de
responsabilidade podem ainda não bastar para assegurar sua condenação
em juízo. Já são, porém, mais do que suficientes para atender ao
critério constitucional do impedimento. Desde o primeiro dia de seu
mandato o presidente desrespeitou as instituições republicanas.
Imiscuiu-se e deixou que seus mais próximos se imiscuíssem, em disputas
e negócios privados".
Talvez, então, a razão para a nomeação de Roberto Mangabeira Unger
tenha sido de ordem político-partidária. Ou seja, o filósofo traria
para o governo a base social representada por seu partido, ampliando o
número de legendas que davam sustentação à administração Lula no
Congresso. Como vimos, no entanto, Roberto Mangabeira Unger passou a
maior parte da vida nos Estados Unidos, o que o forte sotaque não
deixava desmentir. Não possuía qualquer base social, nem traria consigo
qualquer força orgânica da sociedade.
Quanto a seu partido, o minúsculo PRB (Partido Republicano
Brasileiro) tinha menos de 8 mil filiados quando Roberto Mangabeira
Unger se tornou ministro e era um dos menores partidos políticos do
País. Não agregava praticamente nada à base aliada de Lula. Por apoio
político-partidário não faria sentido nomear Roberto Mangabeira Unger.
Afinal, o PRB, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, possuía
apenas três deputados federais, um senador e o vice-presidente da
República, José Alencar (MG), que saíra do PL (Partido Liberal) em
decorrência do escândalo do mensalão e foi o grande incentivador da
nomeação do filósofo.
Em outro trecho do famoso artigo, Roberto Mangabeira Unger afirmou
que "Lula fraudou a vontade dos brasileiros", ameaçava a democracia
"com o veneno do cinismo" e tinha um projeto de governo que "impôs
mediocridade". E mais: "Afirmo que o presidente, avesso ao trabalho e
ao estudo, desatento aos negócios do Estado, fugidio de tudo o que lhe
traga dificuldade ou dissabor e orgulhoso de sua própria ignorância,
mostrou-se inapto para o cargo sagrado que o povo brasileiro lhe
confiou".
Para fazer a vontade de seu vice José Alencar, um homem leal e
doente, Lula só precisaria ter dito que gostaria muito de nomear alguém
indicado por ele, mas não poderia ser o homem que o acusara de chefiar
o governo mais corrupto da história. Poderia ser qualquer um, menos
aquele que conclamara o Congresso a derrubá-lo da Presidência da
República, por corrupção. Por que Lula nomeou Roberto Mangabeira Unger,
autor de acusação tão séria? Nas páginas deste livro, o leitor será
convidado a encontrar a resposta.

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